terça-feira, 12 de março de 2013

Nunca fui de prestar atenção nos calçados de alguém. Sempre fui de olhar ao longe quando estava no metrô, e não para o chão. Mas então aquele par de All Stars me chamou tanto a atenção...
Era uma mancha azul no meu campo cinzento de visão. Voltei a subir o olhar e me deparei com seu rosto. Estava ali, com um lindo exemplar de "Sonho de uma noite de verão" nas mãos, sentada do outro lado do vagão. Não era a garota mais espetacularmente linda, mas era a mais particularmente bela.
Seus olhos, mesmo sob aquela mecha de cabelo, eram lindos. Me perdi tentando decorar cada detalhe, tentando desenhar discretamente no ar para não perder os traços no caminho até minha casa.
Me perdi tanto que não me dei conta de que passou a olhar para mim, confusa porém sorrindo de forma tão simpática que esbocei um "oi" baixinho, inconscientemente.
Você olhou para os lados, pôs o cabelo atrás da orelha e se levantou. Pôs o livro na bolsa enquanto vinha até mim. Sentou-se ao meu lado e disse apenas:
-O tênis, o livro ou o cabelo?
Fiquei sem reação. Completamente sem reação. Você riu e continuou a falar. Um vocabulário com umas gírias tão lindas que cheguei em casa ouvindo teus ecos à minha volta. Me deu seu telefone. Viramos a noite acordados. Dois estranhos. Conversando por horas.
Eu nem sequer sabia seu nome. Te liguei e perguntei se era a garota do All Star azul. E era.
Nos vimos, saímos, rimos.
Era incrível como nunca combinávamos, mas sempre estávamos disponíveis um ao outro.
Também nunca fui muito de escrever, mas são doze andares até o seu apartamento, tenho de fazer algo enquanto penso no quanto estou louco para te encontrar, para sair deste elevador e continuar aquela conversa interminada de ontem à noite. Não vejo a hora de te encontrar, por mais que só faltem alguns minutos.
Eu e meu All Star preto de cano alto, ambos encharcados pela chuva, o que já não importa. Se me resfriar, tem bastante suco de laranja em casa, ainda há canjas de galinha no mercado, certo?
Quase posso sentir cada canto desse prédio, desse bairro... sorrindo. Sorrindo pra mim, por nós.
Estranho seria se eu não me apaixonasse por você!
O sal viria doce para os novos lábios.

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