domingo, 9 de dezembro de 2012

"Devia ser meia-noite. Ou mais. Ou menos. Já não importa. Eu estava com meus fones, o que quer dizer que o tempo havia desaparecido. Sei que devia estar já há algumas horas sentada no meu telhado. Estava chovendo também. Lembro-me das gotas d'água escorrendo por meus braços e por meu rosto. Deitei-me. Senti os gravetos e folhas no meu cabelo. Senti esses mesmos gravetos e folhas arranharem meus braços e meu rosto enquanto eu, de alguma forma, caía. Mas era como se ainda estivesse no lugar. Senti um baque, minhas costas, o chão. A chuva ainda caía sobre mim, ainda podia sentir algumas coisas. O quê havia acontecido? Ainda podia ouvir, bem longe e baixo, o som dos meus fones... Ainda ouvia um sussurro que dizia para um filho desobediente seguir em frente por que haveria paz ao final de tudo... Tentei respirar fundo, mas o ar saiu arfante. Tentei me virar, ficar de lado, impossível. Minhas costas doíam como o inferno. Oh céus... Seria esse o fim de uma vida? Talvez não, talvez apenas o início de outra... Fechei os olhos, tentei não pensar em nada, a música seguia ao fundo... "Carry on, you'll always remember..." Eu não me lembraria.. Já via memórias sendo apagadas. Corria atrás das memórias que fugiam. Três minutos de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Eu era Jim Carrey então? Ouvi minha mãe gritar e correr e abaixar-se ao meu lado e tomar-me nos braços. Minhas costas, minha coluna... Um último grito de dor e um sorriso leve. Gostaria que ela pudesse me ouvir pensar... "Mãe, não sofra, não chore. Siga em frente, é só o que lhe peço." Um último olhar para o céu e a escuridão. E então uma luz. Branca, forte, me cegou a princípio. Pude ouvir vozes. "It's a girl, it's a girl", ouvi um homem dizer, num sotaque britânico fortíssimo. Aquele choro de criança... Ah, sim. A morte que não era um fim."
 - Alguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário