quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"Ah, mais uma tarde que se passa. Mais uma tarde sentada nesses degraus de varanda. Mais um chá. Maçã com canela, hoje. Talvez seja meu preferido. Talvez eu gosta mais de camomila. Ou de cidreira. Mas isso não importa tanto. Aliás, não sei bem o que mais me importa. O mundo tem girado muito rápido. Digo, devagar. Ou talvez nem sequer tenha saído do lugar. Talvez apenas minha cabeça esteja girando, minhas ideias, minhas confusões. Estou confusa. Ou não. Minha máquina de escrever está emperrando, mas sempre esqueço de comprar o óleo de que ela tanto precisa. Gosto dela, é minha mais velha amiga. Talvez não seja tão velha assim, admito. Mas tem história essa pequena e pesada caixinha de escritas. Meus velhos amigos já não são mais os mesmos. Por Deus, eles continuam lá, no mesmo lugar! Eles continuam com suas segundas e terceiras esposas absurdamente jovens, louras e bronzeadas, e com seus filhos, seus enteados. Elas continuam com os velhos ricos que ainda não tiveram um infarto ou ainda não rolaram de uma escada em caracol. E eu continuo aqui. Sentada numa escada de varanda. É uma bela varanda, bela casa também. Mas os cupins não a perdoam por ser bonita. Ah, não a perdoam mesmo. Continuo sozinha, com meus cigarros, meu chá e minha máquina de escrever. Sinto que estou enlouquecendo! As pessoas que me faziam bem, agora me tratam à distância. Como se eu tivesse algo contagioso e eles apenas tivessem pena da minha desgraçada. Mas não estou desgraçada, eu acho."
Alguém.

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