quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"Toda alma quando nasce é assim, um comodo gigante, sem forma, cheio de cantos, cheio de frestas. Aos poucos você vai colocando vida ali. Vai mobiliando. Vai decorando. Vai conseguindo ajuda pra mudar algumas coisas. “Sabe, uma janela aqui ficaria bom”, “Que tal uma porta?”, “Espandir é uma boa”, “Essa parede ficaria linda salmão”. Mas nunca está terminado. Um dia você se senta numa poltrona qualquer que você deixou no meio desse cômodo, olha pra um quadro, um vaso e pensa “já é hora disso sair daí, já é hora de algo novo entrar”. E você abre a janela e atira isso pra longe, por que estava estragando o lugar. E então você vê que aquilo não era tão ruim, abre a porta e decide sair e retomar, talvez tenha concerto. Você não cuidou do lado de fora. O mato está alto, tem lixo acumulado, você cortou os pés descalços num caco de vidro. Agora você usa sapatos sempre que tem que sair. Agora você pensa antes de jogar algo pela janela. Agora você tenta controlar quem anda em volta do teu cômodo, da tua alma. Agora você expandiu sua morada. Fica maior com o tempo. Você faz ligações com outra almas, constrói pontes e as derruba, todos os dias. Por que toda alma é assim, um cômodo gigante."
Alguém.

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