sábado, 10 de novembro de 2012

"De ontem, dona, vem tudo de ontem... - eu disse.
 Como é? - ela parecia confusa, realmente confusa.
 Somos todos restos, sabe? Bom, quantos mais velhos, menos restos seremos. Ou será que seremos mais restos? Bem, só somos inteiros quando nascemos. Depois, vamos perdendo pedaços, deixando partes, virando restos. Tudo depende do ontem. Nossas histórias e memórias. É o que importa. É o que nos forma, sabe? Presente e futuro são só consequências, vão virar passado também. Quer ver? Hmmm... O seu "como é?", não faz nem cinco minutos que disse isso, mas já é passado. Tudo é passado. Tudo vem de ontem. Entendeu, dona? - fiquei oilhando fixo pra ela.
 Claro, claro, menino. Bem, pegue isso, vá comprar um doce. - ela me deu uma nota de dez reais.
 Dinheiro, dona? Dinheiro também passa. Só histórias ficam. bem, pelo menos espero que o que eu te falei fique. Tome, dona, vá comprar uma memória. - lhe devolvi a cédula e saí correndo entre os carros travados e sem lembranças, naquele congestionamento de vidas congestionadas sem memórias."
Um colecionador de memórias.

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