"Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado. Quem diz que me entende nunca quis saber! Aquele menino foi internado numa clínica... Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças, dos sonhos que se configuram tristes e inertes. Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha. E Clarisse está trancada no banheiro e faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete. Deitada no canto, seus tornozelos sangram. E a dor é menor do que parece, quando ela se corta ela se esquece que é impossível ter da vida calma e força. Viver em dor, o que ninguém entende, tentar ser forte a todo e cada amanhecer. Uma de suas amigas já se foi. Quando mais uma ocorrência policial. Ninguém me entende, não me olhe assim com este semblante de bom-samaritano cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente, como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente. Nada existe p'rá mim, não tente! Você não sabe e não entende... E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito, Clarisse sabe que a loucura está presente. E sente a essência estranha do que é a morte. Mas esse vazio ela conhece muito bem. De quando em quando é um novo tratamento, mas o mundo continua sempre o mesmo. O medo de voltar p'rá casa à noite... Os homens que se esfregam nojentos no caminho de ida e volta da escola. A falta de esperança e o tormento de saber que nada é justo e pouco é certo, de que estamos destruindo o futuro e que a maldade anda sempre aqui por perto. A violência e a injustiça que existe contra todas as meninas e mulheres. Um mundo onde a verdade é o avesso e a alegria já não tem mais endereço. Clarisse está trancada no seu quarto com seus discos e seus livros, seu cansaço. Eu sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperam que eu cante como antes. Eu sou um pássaro, me trancam na gaiola. Mas um dia eu consigo resistir! E vou voar pelo caminho m.ais bonito... Clarisse só tem quatorze anos."Renato Russo.
Tem certos momentos na vida que pedem uma palavra alheia... Uma palavra, um consolo, um conselho, uma imagem, uma música... A vida pede essas pausas, essas prolongações de momento... A vida pede reticências...
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário