segunda-feira, 5 de novembro de 2012

"Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado. Quem diz que me entende nunca quis saber! Aquele menino foi internado numa clínica... Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças, dos sonhos que se configuram tristes e inertes. Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha. E Clarisse está trancada no banheiro e faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete. Deitada no canto, seus tornozelos sangram. E a dor é menor do que parece, quando ela se corta ela se esquece que é impossível ter da vida calma e força. Viver em dor, o que ninguém entende, tentar ser forte a todo e cada amanhecer. Uma de suas amigas já se foi. Quando mais uma ocorrência policial. Ninguém me entende, não me olhe assim com este semblante de bom-samaritano cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente, como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente. Nada existe p'rá mim, não tente! Você não sabe e não entende... E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito, Clarisse sabe que a loucura está presente. E sente a essência estranha do que é a morte. Mas esse vazio ela conhece muito bem. De quando em quando é um novo tratamento, mas o mundo continua sempre o mesmo. O medo de voltar p'rá casa à noite... Os homens que se esfregam nojentos no caminho de ida e volta da escola. A falta de esperança e o tormento de saber que nada é justo e pouco é certo, de que estamos destruindo o futuro e que a maldade anda sempre aqui por perto. A violência e a injustiça que existe contra todas as meninas e mulheres. Um mundo onde a verdade é o avesso e a alegria já não tem mais endereço. Clarisse está trancada no seu quarto com seus discos e seus livros, seu cansaço. Eu sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperam que eu cante como antes. Eu sou um pássaro, me trancam na gaiola. Mas um dia eu consigo resistir! E vou voar pelo caminho m.ais bonito... Clarisse só tem quatorze anos."
 Renato Russo.

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