sábado, 10 de novembro de 2012

", simplesmente foi desse jeito. Não, não foi tão simples, não tão básico. Eu simplesmente não lembro muito bem dos detalhes, sabe? Lembro que estava sentada numa dessas pracinhas de bairro, com um caderno aberto no colo. Não lembro se lia, se escrevia, só lembro do caderno. Acho que uma brisa, bem leve, passou por mim. Okay, não foi assim tão leve. Foi o bastante pra virar uma folha do caderno e pra levantar meu cabelo. Acho que foi isso que me levou ao impulso de olhar pra trás. Esse vento - sim, lembrei-me. Era bem mais forte do que uma simples brisa. - havia levado o chapéu de um cara do outro lado da praça. Eu já havia o visto ali antes. O via ali todos os dias, na verdade. Sempre com o chapéu. Era um chapéu bonito, desses que eu via os homens usando nos filmes da Marilyn Monroe. Mas ele era jovem. Geralmente, caras por volta dos vinte e cinco não usariam um chapéu como aquele. Mas isso era uma coisa boa. O chapéu veio parar ao meu lado, no banco. O segurei para que o vento não o levasse de novo. O dono do chapéu correu na minha direção. Chegou esbaforido e soltou um "obrigado" meio sem ar quando entreguei o chapéu a ele. "Não tem de quê", respondi. Ele olhou depressa para meus pés. Eu havia garimpado muito atrás desses sapatos, ele que não risse deles! Era o tipo de sapato que todas as garotas queriam... na década de 50. Marilyn havia usado sapatos desse tipo. Ele não riu. Apenas sorriu de leve. "Belos sapatos, moça". Baixei a cabeça. Elogios. Isso não era muito habitual pra mim. "Gostei do chapéu...", eu disse. E ele riu da forma mais graciosa do mundo. Como o protagonista de uma das versões que vi de Romeu e Julieta. "Bem, obrigado por não deixar meu chapéu voar outra vez, ficaria pra conversar, mas estou atrasado." Eu consenti com a cabeça. Ele sorriu outra vez e saiu correndo. Talvez fosse tomar o metrô. Não sei. Mas saiu correndo. Eu devia estar com o dia livre. Por que passei horas deitada naquele banco inventando coisas pra fazer sem precisar sair dali. Ele não voltou. Também não o vi das outras vezes que passava ali para ir ao trabalho. Ele ficava ali todos os dias. Sentado num banco. Com um livro no colo. Havia se mudado ou mudado de emprego ou... Não sei. E também não deveria me importar. Mas nos dias que se passaram eu comecei a montá-lo na minha mente. Mas era impossível que ele fosse a combinação dos protagonistas dos meus filmes preferidos. Era impossível também eu ter me apaixonado tão facilmente. Era impossível que durante sete meses eu tenha querido falar com ele, mas eu só soube dizer "não tem de quê" e "gostei do chapéu". Bem, respondendo sua pergunta, eu já me apaixonei. Apaixonei-me por um cara cujo chapéu foi levado pelo vento, simplesmente foi desse jeito."
Alguém.

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